quarta-feira, 24 de março de 2010

À Busca da Inspiração
Dulce Magalhães
Tudo vem do sopro. Há o sopro da vida, o sopro da inspiração. Há o sopro que é fruto do suspiro, tanto de quem sofre, quanto de quem ama. Contudo, em essência, há o sopro.
Ao percorrer os caminhos do pensamento e dos sentimentos, o que nos alimenta é o sopro, senão nos perderíamos no conflito de não sa­ber. Algo maior sabe e nos conduz. Sair do controle e caminhar na con­fiança é o desafio e a benção.
Confiar, fiar junto com todos, é o preceito da paz. E não há paz que possa florescer fora. Tudo é interior. O mundo é um espelho de nossos pensamentos, desejos e aspirações. Estamos projetando neste mundo ilusório que nos cerca nossos medos, nossas aflições, nossas esperan­ças e nosso amor.
Em que mundo você vive? Qual é a realidade que você habita? É algo que você trabalha para transformar, acredita que pode ser melhor, tem fé que tudo pode nos conduzir a uma melhor condição ou cami­nha no desânimo, reclama e se exalta dizendo não haver mais jeito?
Nenhum fruto está desvinculado da árvore que o gerou. Esse mun­do que habitamos é fruto das relações que estamos construindo. É o momento de re-ver, re-criar, re-construir, re-verenciar, re-conectar. É tempo de re-nascer.
Antes de iniciar a mudança do mundo, consertar o que não fun­ciona, salvar os aflitos, acalentar o futuro, é fundamental estabelecer um novo olhar. Colocar dentro de si um sentimento onde a paz dê o ritmo da batida de nosso coração.
É preciso recuperar a inocência de acreditar que é possível ter um mundo melhor, a fé na vida e no bem e a coragem para enfrentar os conflitos e se bater contra o injusto. É preciso voltar no tempo para avançar no futuro, resgatar as idéias, refazer os conceitos, eliminar os preconceitos.
É preciso colocar beleza na prática diária, produzir o pão que ali­menta também a alma, para que se tenha liberdade para sonhar. É pre­ciso mudar por dentro, tornar-se digno dos seus próprios sonhos, es­palhar a esperança, fazer com todos os seres a dança da integração. Porque, para viver num mundo melhor, é preciso merecer.
Sob a beleza e o silêncio dos céus
Carlos Renato Carriço Gomes[1]

Nas estradas da vida, Deus fala na nossa história a partir de diversas pessoas. As que conhecemos e fazem parte de nosso cotidiano e as que não conhecemos mas com sua “imagem” e/ou palavras também nos falam e nos tocam. Anselm Grün, um monge beneditino, alemão, um dos grandes escritores espirituais de nossa época, é uma dessas pessoas em minha vida que não conheço, mas já faz a diferença por suas palavras que explicam de maneira simples, coisas grandiosas e valiosas.

Um de seus livros tem como título O Céu Começa em Você! Curioso título! E foi esta curiosidade que me levou a aventura de lê-lo. Embarcado nesta viajem, o autor nos leva a mergulhar na experiência dos padres do deserto inspirado na espiritualidade de São Bento, que tem como raiz “habitar consigo mesmo”, “permanecer em si mesmo” para encontrar Deus. Chamou-me a atenção que “habitar consigo mesmo” exige silêncio e hoje em dia são poucos os lugares que o proporciona e isso provoca um afastamento de nós mesmos. Passou um tempo! E terminada esta leitura, recebi em minhas mãos um outro livro do mesmo autor, de alguém que conheço, que cultiva no dia-a-dia o silêncio para encontrar a Deus, minha madrinha, Irmã Maria de Lourdes do Carmelo São José, e com a curiosidade aguçada li o título As fontes da força interior!. Não tive dúvida, “comprei meu bilhete” e embarquei novamente nesta nova aventura. Novamente, o autor me levou a olhar minha história (meu passado e presente) e me fez perguntar: Em qual ou quais fontes estou matando a minha sede de ser humano? Estas fontes são claras ou turvas? Neste caminho, busco na verdadeira fonte que é Deus ou em outras que secam rapidamente quando o sol esquenta um pouco? E durante esta viagem um pequeno texto me chamou a atenção que diz:

“Quando nos sentimos áridos e secos deveríamos lembrar-nos da criança divina que nos habita, recordar as suas brincadeiras, a sua capacidade imaginativa e criativa. A relação com a criança divina que abrigo em mim reacenderá a minha vivacidade, tornando tudo mais fecundo. (p. 78)

Parei! Fiquei um tempo nas lembranças de minha infância e percebi que estou esquecendo, assim como muitos, desta fonte clara que pode nos tirar do esgotamento e renovar nossas energias positivas. Também me fez relembrar as palavras de Jesus no Evangelho de Mateus capítulo 18, 2-3, “Jesus chamou uma criancinha, colocou-a no meio deles e disse: “Em verdade vos declaro: se não vos transformardes e vos tornardes como criancinhas, não entrareis no Reino dos céus.” Em nossa criança interior não morre a vontade de crescer, de conhecer o novo, de levantar quando cai, de abraçar livremente aqueles que amam, a sinceridade nos sentimentos, a simplicidade que vê a beleza no que é comum e cotidiano e abertura de coração para que Deus, através da ação do Espírito Santo, possa agir e transformar o que envelheceu com o tempo em uma realidade nova.

As emoções da viagem aumentaram! E que por sinal, não saí do lugar! Esta é a sensação quando entramos no que lemos! Viajar sem sair do lugar! Só que esta viagem tem uma curiosidade: ela é no silêncio e para dentro de mim mesmo! Embalado por esta viajem, ao contemplar o céu estrelado no retiro do Grupo de Vida “João Paulo II” (Filosofia) no mosteiro beneditino N. Sra. de Guadalupe em São Mateus, escrevi este texto que partilho com vocês, lembrando da criança que existe em cada um de nós que traz lembranças ruins e boas, mas são também, estas que nos ajudarão a recuperar nossas energias para continuar a trilhar os caminhos da vida.


Sob a beleza e o silêncio dos céus

Quando crianças, dizem-nos que a Casa de Deus é o céu. Então, parece que de vez em quando Deus resolve dar uma limpeza e as águas jorram aqui em baixo, mas se não fosse a limpeza, as plantas não cresceriam e nós não poderíamos nos alimentar.

Outras vezes, Deus resolve ficar no escuro e apagam-se as velas e a luz maior, e se vê uma infinita escuridão daqui de baixo.

Mas outras vezes, Deus revela a beleza de sua Casa, que também é nossa, e partilha conosco as suas luzes que clareiam tudo e nos mostram que há uma luz maior que nos ilumina e que não estamos sós.

No dia, sua luz aquece e floresce tudo que toca, é um milagre.

Alguns dizem que há um céu dentro de nós, portanto, se a Casa de Deus é o céu, Ele também mora dentro de nós e acende suas luzes e às vezes às apaga e aí a gente percebe que há também dentro de nós algo muito maior que nós.

Assim, que o silêncio e a beleza dos céus interno e externo, ajude-nos a encontrar a Deus e a beber das fontes do Espírito Santo.

[1] Seminarista do 3º Ano de Filosofia do Seminário Maior “São João Maria Vianney”